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Foto do escritorFernando Trevisolli de Britto

Fronteiras

Existem hoje no Brasil, aproximadamente, 2,8 milhões de pessoas com alguma deficiência intelectual, matematicamente 1,4% da população brasileira, mas precisamos ter em mente que esses dados não são, nem de perto, exatos, de acordo a OMS, a falta de materiais numéricos concretos, não somente no Brasil, contribui para a falta de voz e visibilidade dessas pessoas. Como ficou evidente na frase anterior, a inclusão social desses indivíduos é extremamente complicada, principalmente nos países de terceiro mundo, como o nosso, pois é marcada pela falta de investimentos governamentais no processo inclusivo desses cidadãos, além de, preconceitos sociais que, muitas das vezes, começam dentro da própria família, não podemos deixar de lembrar, que por se tratar de países extremamente desiguais os tratamentos e o desenvolvimento das pessoas variam muito dependendo de suas classes sociais. Há os mais variados tipos de deficiência, mas neste texto procurarei me aprofundar nas intelectuais e os desafios de seus indivíduos, apesar de muitas coisas que serão citadas poderem ser aplicadas em diversos cenários. De acordo com o Dr.Clay Brites, médico-neurologista e co-fundador do Instituto NeuroSaber, a deficiência intelectual é um dos transtornos de desenvolvimento que atinge, aproximadamente, de três a quatro por cento das crianças, onde elas, nos respectivos casos, apresentam um nível cognitivo e de desenvolvimento muito baixo se comparado com as outras de suas idades, além serem notáveis, dificuldades de adaptação, extrema dependência afetiva e problemas de relacionamento, dentre outros sintomas. Tal condição pode possuir diversos níveis, desde os mais fracos até os mais severos, é importante apontar que, em uma grande porcentagem dos casos, ela pode estar acompanhada de outras síndromes, como o Espectro Autista e a Síndrome de Down o que ajuda agravar muitos cenários.

Não se sabe ao certo todas as causas da deficiência intelectual, porém algumas são levantadas pelos cientistas, elas são, danos causados ao útero ou durante o nascimento, como perda de oxigênio ao longo do parto, acidentes cerebrais ou doenças que impactam o sistema nervoso, além de, claro, fatores genéticos, podemos citar também, causas sociais, porém vale notar que ⅓ dos casos da não possuem uma origem evidente,deixando, assim, muitos mistérios no estudo do tópico. Embora os desafios, necessitamos arranjar meios de inclusão social para essas pessoas e isso é um papel que abrange toda a sociedade.

A escola é considerada pela sociologia uma das principais instituições sociais, pois ela possui o ofício de integrar os indivíduos nas normas sociais, legais e comportamentais, além de, incentivar a sociabilização. Infelizmente, muitos sistemas de ensino não atendem essas demandas para a maioria dos indivíduos, seja por falta de investimentos públicos ou fatores externos, mas a situação piora quando falamos de educação para pessoas com síndromes mentais.Existem hoje no Brasil dois tipos de escola, as regulares, que são aquelas consideradas “normais” e de uso “comum”, e as especiais, essas voltadas para os cidadãos portadores de deficiências ou síndromes, entender esse dado é muito importante para discutirmos inclusão, pois a inserção dessas pessoas nas escolas regulares é extremamente necessária, não somente para incentivar a diversidade, mas, também, para inserir esses cidadãos no ambiente comum, mas, é inegável, que em muitos casos o suporte de instituições especializadas ajudam no processo de “tratamento”. A meta 4 do PNE,”Plano Nacional de Educação”, disserta a seguinte nota,”Universalizar, para a população de quatro a dezessete anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou superdotação, o acesso a educação básica e ao atendimento educacional especializado preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de sistema educacional inclusivo(...)”, existem muitas polêmicas em torno desse propósito, pois a palavra “principalmente” é muito utilizada como válvula de escape por diversas instituições regulares para não aceitarem pessoas com tais características citadas, isso é um desafio absurdo para a inclusão social, visto que a falta de acesso ao ensino regular pode gerar diversos agravantes, uma vez que os portadores são excluídos, ficando somente com o acesso aos sistemas de ensino especiais e não com ambos, provocando, assim, uma dispersão social.

Os dados de inclusão desses indivíduos no ambiente escolar estão aumentando consideravelmente, de acordo com o Censo escolar de 2018, o número de alunos com necessidades especiais dentro das escolas cresceu, por volta de,33,2% em todo o país e o percentual de inserção em classes de escolas regulares também aumentou. Apesar do dados estarem indo a um caminho positivista temos que ter em mente que os desafios ainda continuam, seja por falta de acessibilidade ou de preparo profissional, pois, de certa maneira, nosso sistema de ensino está pré-programado para homogeneidade e não para a heterogeneidade, além disso, dados apontam que apesar das matrículas terem, realmente, aumentado muitas instituições de ensino portadoras desses estudantes ainda não possuem as devidas estruturas para atendê-los. Essa pré-programação contra a diversidade se espelha de maneira mais radiante quando conversamos sobre o mercado de trabalho para esses indivíduos, muitas das vezes essa falta de políticas e conscientização social se reflete nos ambientes de trabalho,apesar dos números estarem crescendo, apenas 1% dos brasileiros portadores de alguma deficiência física ou intelectual estão no mercado de trabalho, tal fato ocorre, principalmente, por preconceito e medo por parte das empresas de perderem seus lucros. Podemos observar que, apesar da constante e considerável evolução de consciência por parte do governo e da população, os problemas ainda continuam enraizados em muitas áreas e pensamentos da nossa sociedade, necessitamos pressionar e revolucionar nossa próprias bases em rumo a mudança.

Podemos entender mais profundamente do preconceito implantado na nossa sociedade a partir do livro o Holocaustro Brasileiro, escrito por Daniela Arbex, a escritora retrata a realidade e os horrores que aconteciam com os pacientes do antigo “Hospital Colônia de Barbacena”, que era um hospital psiquiátrico da época, citar essa intuição não é somente citar pessoas com transtornos psiquiátricos, mas, também, citar todos aqueles que eram excluídos da sociedade, pois o “hospital” tinha o papel de deposito de pessoas, não sei se podemos chamar aquilo de hospital, porque ali não havia cura, somente morte e dor para todos os lados, tanto que a instituição possuía três cemitérios anexados a ela, por dia, de acordo com alguns depoimentos, chegavam a morrer, de forma desumana, cinco pacientes,ou melhor, cinco humanos que antes de entrar ali possuíam histórias, risos e choros, além de sonhos, sonhos esses que foram enterrados abaixo da terra e do mofo das covas de Barbacena. Acho que com o exemplo anterior podemos compreender o preconceito é a desumanidade, não somente com os deficientes, mas com todos aqueles que fogem do padrão, Barbacena é somente um exemplo dentre centenas de outros, sim, nossa sociedade é separatista com tudo aquilo que foge do “normal”. Para muitos, pessoas deixam de ser humanas quando quebram o esperado, fazendo com que, assim, elas se transformem feras que precisam ser domadas, as pessoas precisam de compaixão, principalmente aqueles considerados “os excluídos da sociedade”, porque prisões não curam, pena sem atitude não resolve. As vezes só começamos a nos importar quando somos a vítima de um preconceito ou quando alguém próximo a é, nesse ponto está o problema, a passividade e a empatia seletiva, pois o perigo do mundo não é as pessoas ruins, mas sim aquelas que não fazem nada perante a maldade.

Vivi muito pouco, possuo, apenas, 15 anos, mas já consigo enxergar as fronteiras que nos cercam, não somente as dos deficientes e as pessoas portadoras de síndromes que foram o foco principal do texto, porém de um todo. Sei que elas estão ali invisíveis, silenciosas, não por não fazerem barulho, mas por serem serem tão cotidianas que já nos acostumamos com seus estrondos. As fronteiras continuam, sempre e sempre, ali, somente com todas as mãos do mundo conseguiríamos as derrubar e enquanto isso não acontece minha, e espero que a sua também, batalha não estará terminada, porque acredito que enquanto essas fronteiras não caírem nossa missão ainda não estará completa.


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